Código do Trabalho: 89
Categoria: Relato de Caso
Instituição de Ensino: HOSPITAL REGIONAL DE SÃO JOSÉ
Título:
INFARTO ESPLÊNICO COMO MANIFESTAÇÃO DE ENDOCARDITE LIBMAN-SACKS - O DIAGNÓSTICO DE SAF EM UM HOMEM JOVEM
Autores:
GABRIELA MAGALHÃES GRUBERT, MARIELA GOULART ADAMES, PEDRO BÚRIGO COSTA, GABRIEL SCALCO, GUSTAVO DE ARAÚJO PINTO, ADEMAR NIENKOETTER CARPES, MARCUS DE LUCA MACIEL
Tema Livre:
Introdução
A endocardite de Libman-Sacks (ELS) envolve a formação de vegetações estéreis nas válvulas cardíacas. Está associada a estados de hipercoagulabilidade, presente em doenças como lúpus eritematoso sistêmico, síndrome do anticorpo antifosfolípide (SAF) e neoplasias.
Apesar de subdiagnosticada, é uma doença grave, que pode levar à disfunção valvar, insuficiência cardíaca e embolização sistêmica.
Relatamos aqui um caso de ELS em um paciente jovem, com manifestação inicial incomum - infarto esplênico, cuja investigação levou ao diagnóstico de SAF.
Descrição do caso
Paciente do sexo masculino, 35 anos, histórico de febre reumática e hipertensão arterial sistêmica, admitido com quadro de dor abdominal intensa súbita, associada a febre nos primeiros dias. Sem histórico de trauma ou alterações nos hábitos urinários ou intestinais. No exame físico foi identificado sopro diastólico em foco aórtico.
A tomografia computadorizada de abdome foi sugestiva de infarto esplênico. Os exames laboratoriais mostraram disfunção renal leve, proteinúria e leve elevação dos marcadores inflamatórios. O VDRL apresentou título de 1:2 e FTA-Abs negativo.
Foi levantada a hipótese de embolização por endocardite e solicitado ecocardiograma transesofágico (ECOTE) e hemoculturas.
As hemoculturas não apresentaram crescimento microbiano. O ECOTE evidenciou uma massa móvel, com 2,0 x 1,7 cm, aderida à cúspide não coronariana da válvula aórtica. Diante do diagnóstico de endocardite, foi mantida a antibioticoterapia. O ecocardiograma de controle após um mês demonstrou uma diminuição discreta, não significativa da massa.
Em decorrência da insuficiência aórtica grave, foi realizada troca valvar 36 dias após o diagnóstico.
O fragmento da válvula aórtica não apresentou crescimento bacteriano. Na vigência de endocardite com culturas negativas sem melhora significativa do quadro com antibioticoterapia, foram investigadas causas não infecciosas. Os anticorpos para SAF vieram fortemente positivos (Anti-β2-glicoproteína IgM e IgG, Anticardiolipina IgG, Anticoagulante lúpico por 2 métodos)
Assim, feito o diagnóstico de SAF, com 18 pontos nos novos critérios classificatórios propostos em 2023 ACR/EULAR.
O paciente evoluiu bem após a troca valvar, sendo mantido em anticoagulação com varfarina para prevenção de novos eventos trombóticos. Segue em acompanhamento multidisciplinar.
Conclusão
O caso enfatiza a importância de investigar causas não infecciosas para endocardite com culturas negativas. Embora a SAF seja rara em homens jovens, seu diagnóstico foi essencial para manejo e desfecho favorável, evitando antibioticoterapia desnecessária e indicando o tratamento e seguimento adequado, incluindo o uso de anticoagulação. Considerar embolização cardíaca como causa de infarto esplênico foi crucial para o diagnóstico de endocardite e posteriormente de SAF. Estudos adicionais são necessários para estabelecer diretrizes claras sobre o manejo de condições concomitantes como SAF e endocardite.
Palavras Chave:
ENDOCARDITE LIBMAN-SACKS, SÍNDROME DO ANTICORPO ANTIFOSFOLÍPIDE, SAF, INFARTO ESPLÊNICO
Referências:
1. Nonbacterial Thrombotic Endocarditis: Pathogenesis, Diagnosis, and Management - PubMed [Internet]. [cited 2025 Mar 8]. Available from: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27501336/
2. Ibrahim AM, Siddique MS. Libman-Sacks Endocarditis. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2025 [cited 2025 Mar 8]. Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK532864/
3. Malvar B, Almeida FM, Rebocho L, Moniz JC, Azevedo F. Cerebral embolism from Libman-Sacks endocarditis. BMJ Case Rep. 2011 Jun 30;2011:bcr0420114071.
4. Barbhaiya M, Zuily S, Naden R, Hendry A, Manneville F, Amigo MC, et al. The 2023 ACR/EULAR Antiphospholipid Syndrome Classification Criteria. Arthritis Rheumatol Hoboken NJ. 2023 Oct;75(10):1687–702.