Código do Trabalho: 17
Categoria: Relato de Caso
Instituição de Ensino: 1- UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA - UNISUL PEDRA BRANCA 2 - UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA - UFSM
Título:
BRADICARDIA SINUSAL EM PACIENTE EM USO DE BETABLOQUEADORES E FITOTERÁPICOS: DESAFIOS DIAGNÓSTICOS E TERAPÊUTICOS
Autores:
REBECA FIGUEIREDO SALES, CAMILA DE ANDRADE BRUM, LUIZ FELIPE MALAQUIAS HICKEL, GUSTAVO PETRY
Tema Livre:
Introdução: A bradicardia sinusal pode ser um achado fisiológico, mas também pode estar associada a fatores patológicos ou farmacológicos. O uso de betabloqueadores e fitoterápicos, como a Cimicifuga racemosa (Cimicifuga racemosae rhizoma), tem sido apontado como um possível fator contribuinte para o desenvolvimento de bradicardias, embora os relatos na literatura sejam limitados.
Descrição do caso: Paciente HBCD, feminina, 56 anos, com hipertensão, dislipidemia, asma, glaucoma e histórico de ataque isquêmico transitório. Em acompanhamento em ambulatório de Cardiologia. Apresenta dor torácica há seis anos e crises de precordialgia desde janeiro de 2024, além de dispneia, palpitações e parestesia. Faz uso contínuo de losartana, hidroclorotiazida, ácido acetilsalicílico, sinvastatina, Alenia, salbutamol, dorzolamida, brimonidina e Cimicifuga racemosa para sintomas de fogacho devido à perimenopausa.
No exame físico, frequência cardíaca de 46 bpm e pressão arterial de 110/70 mmHg. Exames laboratoriais mostraram disfunção renal, e o Holter de 2024 evidenciou bradicardia e taquicardia atrial não sustentada. A paciente foi prescrita com formoterol inalátorio e encaminhada ao oftalmologista para revisão do tratamento antiglaucomatoso. Retornou em setembro de 2024, com bradicardia persistente, sem o uso de brimonidina e timolol, e exames laboratoriais melhorados. A conduta incluiu redução da cimicifuga e encaminhamento ao ginecologista, com solicitação de novos exames em seis meses. Os dados foram coletados no prontuário eletrônico do referido ambulatório. Foram avaliados exames físicos, laboratoriais e eletrocardiográficos, além de testes de esforço e monitorização prolongada da frequência cardíaca por Holter. Investigou-se uma possível relação entre o uso prolongado de cimicifuga e bradicardia sinusal, considerando fatores clínicos e farmacológicos.
Conclusões: A paciente apresentou bradicardia persistente (FC mínima de 29 bpm), sem pausas sinusais significativas e com resposta cronotrópica preservada ao esforço. O uso prévio de timolol oftálmico foi descartado como causa principal, pois a bradicardia persistiu sete meses após a suspensão. A redução da dose de Cimicifuga racemosa foi indicada para avaliação da sua influência no quadro clínico. A persistência da bradicardia após a interrupção do betabloqueador tópico levanta a hipótese de um possível efeito bradicardizante da Cimicifuga racemosa. A redução gradual do fitoterápico e a reavaliação clínica fornecerão dados adicionais para esclarecer essa relação. O caso destaca a necessidade de uma abordagem cuidadosa na prescrição de fitoterápicos para pacientes com predisposição a disfunções do ritmo cardíaco.
Palavras Chave:
BRADICARDIA SINUSAL, CIMICIFUGA RACEMOSA, FITOTERAPIA, ARRITMIA CARDÍACA.
Referências:
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